20 de novembro de 2020

[A propósito da solenidade de Cristo Rei]

 

“Talvez eu não me tenha explicado bem. Ou não entendestes.”
Não penseis no futuro. No último dia já estará tudo decidido. Tudo se joga neste momento.
“Talvez eu não me tenha explicado bem. Ou não entendestes.”
O juízo não se acontece entre nuvens e anjos. O juízo é na terra e cada dia é dia de juízo final. Pois o juízo não é depois dos olh
os fechados. Quando os fechares será demasiado tarde.
“Talvez eu não me tenha explicado bem. Ou não entendestes.”
Se quereis encontrar o Rei não o busqueis em grandes desfiles. Procurai-o entre os perdidos, os cansados, os desalentados.
“Talvez eu não me tenha explicado bem. Ou não entendestes.”
Este Rei tem o rosto de um pobre homem, de um homem de cor (de todas as cores). O vosso Rei é acolhido ou desprezado sempre que um homem – de qualquer cor – é acolhido ou desprezado.
“Talvez eu não me tenha explicado bem. Ou não entendestes.”
Este Rei não habita um palácio ou um castelo. Este Rei vive na fome, na sede, na marginalização, exploração, na prisão, na favela, no hospital, na cabana, no desespero, ma solidão, na humanidade sofredora, no desenraizamento. O tempo e o palácio é a miséria humana.
“Talvez eu não me tenha explicado bem. Ou não entendestes.”
Não se trata de adivinhar quem é o Rei entre os famintos e os pobres, os presos e os doentes. Não. Qualquer um deles é o vosso Rei. E até o estrangeiro ou o imigrante é o vosso Rei que quer ser acolhido, reconhecido e honrado e não como simples mão de obra abundante e barata.
“Talvez Eu não me tenha explicado bem. Ou não entendestes.”
A clareza da palavra posta em Mateus não foi compreendida e acolhida.
O que seria de esperar fácil resultou numa imensa dificuldade. Mais parece que com muita frequência que caminhamos para a salvação como condenados….
“Talvez eu não me tenha explicado bem. Ou não entendestes.”
“Sou o vosso Rei. Mas…”

[Reflexão adaptada de Alessandro Pronzato]
[Foto retirada da internet, Capela Sistina]

1 de novembro de 2020

VIDA PARA LÁ DESTA VIDA




No ventre de uma mulher grávida, encontravam-se dois bebés. Um deles pergunta ao outro:
- Acreditas na vida depois do parto?
- Claro que sim. Deve haver algo depois do parto. Talvez estejamos aqui, porque precisamos de nos preparar, para o que seremos mais tarde.
- Que tolice. Não há vida depois do parto! Como seria essa vida?
- Não sei. Seguramente haverá mais luz que aqui. Talvez caminhemos, com os nossos próprios pés, e nos alimentemos, pela boca.
- Isso é absurdo. Caminhar é impossível. E comer pela boca? Isso é ridículo. Só pelo cordão umbilical. Eu digo-te uma coisa: a vida depois do parto está fora de questão. O cordão umbilical é demasiado curto.
- Pois eu creio que deve haver algo mais. E talvez seja apenas um pouco diferente do que estamos acostumados a ter aqui.
- Mas nunca voltou ninguém, depois do parto, para nos dizer nada! Não. O parto é o fim da vida. E, no final de contas, a vida não é mais que uma angustiosa existência na obscuridade que não leva a nada.
- Bem, eu não sei exatamente como será depois do parto, mas certamente que veremos a mamã e ela cuidará de nós.
- Mamã?! Tu acreditas na mamã? Onde pensas tu que ela está?
- Aonde? Em tudo, à nossa volta. Nela e através dela é que vivemos. Sem ela, este mundo não existiria.
- Pois eu não creio. Nunca vi a mamã, portanto é lógico que não exista.
- Bem, às vezes, quando estamos em silêncio, tu podes ouvi-la a cantar ou sentir como acaricia o nosso mundo. Sabes? Eu penso que há uma vida real que nos espera e que agora apenas nos estamos a preparar para ela…
[Atribuído a José António Goni]

15 de outubro de 2018

Missão é partir



“Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso Eu. 
É parar de dar volta ao redor de nós mesmos, como se fôssemos o centro do mundo e da vida. 
É não se deixar bloquear nos problemas do pequeno mundo a que pertencemos: a humanidade é maior. 
Missão é sempre partir, mas não devorar quilómetros. 
É sobretudo abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los. 
E, se para encontrá-los e amá-los é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então Missão é partir até aos confins do mundo.” 

D. Hélder Câmara


24 de setembro de 2018

Pároco. Um ano passou!

As palavras que se seguem foram ditas há um ano. Em Fornelos, no dia 23 de Setembro, em Fafe no dia 24, faz hoje precisamente um ano.
E um ano volvido, permanece a verdade de cada uma delas, dentro da imperfeição da minha pessoa que busca cada dia, não o que me agrada, ou agrada aos outros, mas aquilo que agrada a Deus.
Preciso que continuem a rezar por mim!




Eu, Pe. José António Ribeiro de Lima Carneiro ao assumir o Ofício de Pároco da Paróquia Santa Eulália de Fafe, Diocese ou Arquidiocese Braga, prometo conservar sempre a comunhão com a Igreja católica, quer em palavras por mim proferidas, quer em meu procedimento.

Com grande diligência e fidelidade desempenharei os ofícios, pelos quais estou ligado em função da Igreja, tanto universal, como particular, na qual, conforme as normas do direito, sou chamado a exercer meu ofício.
Ao desempenhar meu ofício, que em nome da Igreja me foi conferido, guardarei integralmente o depósito da fé, que com fidelidade transmitirei e explicarei; quaisquer doutrinas, portanto, contrárias a este depósito, serão por mim evitadas.
Hei de seguir e promover a disciplina comum de toda a Igreja, e acatar a observância de todas as leis eclesiásticas, sobretudo aquelas que estão contidas no Código de Direito Canóico.
Com cristã obediência seguirei o que declaram os sagrados Pastores, como autênticos doutores e mestres da fé ou o que estabelecem como orientadores da Igreja, e prestarei fielmente auxílio aos Bispos Diocesanos, a fim de que a ação apostólica, a ser exercida em nome e por mandato da Igreja, se realize em comunhão com a mesma Igreja.
Assim Deus me ajude e os Santos Evangelhos, que toco com minhas mãos.

13 de julho de 2018

Entrevista ao "De Colores"


Quando chega um qualquer dissabor fixo-me naquele primeiro amor que me fez firmar a vida toda em Cristo, transformando as dificuldades e os obstáculos em desafiose oportunidades.


https://issuu.com/mccbraga/docs/decolores_julho_2018

17 de junho de 2018

[Somos apenas agricultores]

Somos apenas agricultores
Lavramos os campos
Espalhamos a semente
Mondamos e regamos
Mas a semente nasce e cresce por si
E no fim é sempre um milagre
A espiga de pão que nos é oferecida
Assim é o Reino de Deus
Semente à terra lançada
Que em nós vai crescendo
No silêncio dos dias
E no fim será sempre trigo com fruto
Ceifado
Colhido
Triturado
Farinha de pão
Assim é o Reino de Deus

D. Manuel António Santos 

3 de junho de 2018

O espírito da lei



No centro do anúncio da Igreja está o exemplo do Filho de Deus, que «sendo de condição divina se tornou semelhante a nós». Este movimento de descida da divindade é expressão do amor infinito de Deus que, sem deixar de ser Deus, tornou-se homem para que o homem «recuperasse a semelhança perdida pelo pecado».
A estratégia divina parece ser claramente da diluição da barreira entre o sagrado e o profano, entre o mundo e o reino de Deus (pelo menos é-nos difícil estabelecer essa fronteira), uma estratégia válida, já que o mundo, o barro de que nos fala S. Paulo, é de um valor incomparavelmente inferior ao tesouro que ele transporta, mas ainda assim indispensável para que o precioso conteúdo seja transportado.
O tesouro de Deus é, portanto, formatado por esta matéria caduca, variável consoante a circunstância histórica, mas não se torna refém dela. Dito de outro modo, no mistério da encarnação a Palavra incriada tornou-se também uma forma, uma figura, um rosto, uma expressão humana limitada no tempo - o tempo está em si mesmo em inexorável decomposição, é necessário como o ritmo na música, como estrutura organizadora de uma melodia -, mas não se tornou escravo dessa figura nem desse rosto.
É corajosa a releitura que Jesus faz da lei que obrigava a respeitar escrupulosamente o descanso sabático (cf. Marcos 2, 23 - 3, 6). Lei, variação da matéria animada por um espírito, datada de um tempo e um lugar que, fora de contexto, uma vez absolutizada, torna-se arma de arremesso, e não estrutura potenciadora do crescimento de um sujeito, individual ou coletivo.
É comum a tendência para divinizar a lei ou a linguagem própria de um tempo. Como todos os grupos, também na comunidade crente, por vezes, por detrás de um sorriso sereno, mantém-se o debate aceso sobre certos temas, persiste a discussão sobre questões morais, expressões litúrgicas, orientações disciplinares, entre outras, que, convenhamos, foram desenhadas num contexto e continuam a condicionar as novas formas de dizer a Boa Nova. A verdade é que esta linguagem tornou-se um enigma para os homens de hoje. «Não se entende», dizem. «Estes princípios não fazem sentido», confidenciam-me. «É impraticável esta disciplina», repetem. Não, não podemos dizer que é a lei de Deus que está em causa, mas uma expressão do espírito da lei que persiste muito para além do seu prazo de validade. «A lei de Deus é a mesma», protestava zangada uma boa senhora, só porque a missa tinha deixado de ser em latim. A lei de Deus?
O risco da absolutização da lei é evidente: a catalogação entre os bons cristãos, os aparentemente cumpridores, e os fracos, os de segunda categoria, os que deslizam naturalmente para o patamar de «não praticantes», os que vivem na periferia.
O Senhor chamou-nos amigos e não servos, isto é, escravos da lei. Procuremos ser fiéis aos seus ensinamentos. Amigo significa ter a coragem e a liberdade para repensar e repor novas formas reconfiguração do espírito da lei, obedecendo à pedagogia divina, que continuamente nos inspira a propor a mensagem do Mestre. Afastarmo-nos dos ensinamentos é um passo para o confronto com a dramática bifurcação entre o legalismo frio e estéril e o agnosticismo prático. Não, não nos afastemos do espírito dos ensinamentos de Jesus.


Nélio Pita, CM visto aqui

[A propósito da solenidade de Cristo Rei]

  “Talvez eu não me tenha explicado bem. Ou não entendestes.” Não penseis no futuro. No último dia já estará tudo decidido. Tudo se joga nes...